Eh um lugar convidativo, onde parques e praças incentivam a vida ao ar livre, museus e restaurantes atiçam a vida cultural.
Medellín voltou às notícias no fim de 2016 por motivos óbvios: a tragédia com o avião da Chapecoense. Eu estava na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos, a caminho da Colômbia, quando o acidente aconteceu. Nos dias seguintes, testemunhei a consternação entre os colombianos.
As imagens do estádio em Medellín lotado de pessoas homenageando o time brasileiro são parte do melhor da Colômbia: o coração. A solidariedade está por trás do lema: “Un paisa no tiene amigos, un paisa tiene parceros“. Paisas são os colombianos da região de Antioquia, distrito onde fica Medellín. Tudo gente fina. E uma gente que mudou os rumos de sua cidade.
A Medellín de 2017 em nada lembra a da série Narcos. É um lugar convidativo, onde parques e praças incentivam a vida ao ar livre, museus e restaurantes atiçam a vida cultural. Há excelentes cafés e um mundo de coisas para fazer. É a “cidade da eterna primavera” (temperatura média de 24°C) e da inovação, com sistema de transporte público moderno e opções de lazer que vão de comida típica e descanso em pueblos nas montanhas a esportes radicais e lições de tango.
O metrô é limpo, organizado – e passa por estas curiosas cenas urbanas (John Coletti/Getty Images)
CIRCULANDO POR MEDELLÍN, COLÔMBIA
O Poblado é o bairro mais procurado por turistas, com fácil acesso ao Centro e à Zona Rosa, onde a vida noturna acontece. É a área mais gostosa da cidade, com alamedas arborizadas, lojas bacanas como a Galería Diseño, que trabalha só com designers colombianos, e a Caduto, com belos sapatos e acessórios de couro – ambas na Vía Primavera, a rua de butiques e cafés.
É a parte mais cosmopolita de Medellín, mas tem o élan colombiano: o gosto naturalmente adocicado do café, os bordados ricos das bolsas típicas da tribo Wayuu e o colorido das frutas e flores. No Poblado está também a maior parte dos bons hotéis, como Diez, Dann Carlton ou Casa Victoria, e hostels simpáticos como o butique Casa Kiwi ou o mais popular Blacksheep.
O Metrocable, transporte que leva a bairros mais altos e distantes (Carlos Mora/Glow Images)
Quem procura autenticidade não erra no 61Prado, casarão restaurado com pátio iluminado por velas, ótima base para explorar “el Centro” de Medellín.
Mais plano e menos cheio de turistas que o Poblado, Laureles é boa opção para hospedagens estilo Airbnb. É uma área chique, com ótimos lugares para compras. Vá ao La Tienda Imaginario, para objetos de decoração, e à multimarcas Origen, para conhecer estilistas colombianos.
Poblado, o bairro preferido dos turistas (Andres Duarte/Viagem e Turismo)
Belén é um bairro de classe média que já foi perigoso e, hoje, por causa dos baixos preços nos aluguéis, recebe muitos jovens e pequenas famílias. Tem um grande parque e pastellerias (que vendem pães e doces) de bairro como a Legiseth – prove os pães recheados com carne, queijos e vegetais.
E La América é uma área residencial que faz divisa com Laureles, com parques e restaurantes simples como o Empanadas Santiamen e o Madrigal, um dos melhores para comida típica.
Os ônibus coloridos, na Plaza Cisneros (Cyril/Getty Images)
Apesar de as linhas de ônibus, coloridos e às vezes com trilha sonora, cobrirem toda a cidade, é o metrô que os visitantes mais usam. É limpo, organizado, rápido – e todas as estações têm mapas gratuitos do sistema de transportes. Para trechos mais longos ou à noite, use táxis: são baratos e não têm bandeira 2.
Uber também é comum na cidade. A topografia de Medellín não é a mais adequada para o pedal, mas ciclistas contam com uma rede de ciclovias que, apesar de curta, é bem organizada. O sistema de bikes Encicla é gratuito para visitantes em viagens curtas.
As bolsas da tribo Wayuu nascem assim (Jason Rothe/iStock)
UM CAFEZINHO...
Junto com o da Etiópia, do Quênia, da Indonésia e do Brasil, o café da Colômbia é considerado um dos melhores do mundo (veja mais na pág. 60). O Poblado é uma área perfeita para provar a bebida e tirar as suas próprias conclusões – o bairro tem vários lugares para marcar um papo.
Cafeinômanos vão querer conhecer o Pergamino Café, premiado pela revista online Sprudge como um dos melhores cafés no mundo. Quem quiser aprender mais sobre a ciência e a arte da cafeteria encontra no El Laboratorio de Café o lugar ideal.
A marca tem quiosques em alguns pontos da cidade, mas tente agendar uma visita ao laboratório, onde são feitas as torras, as provas e os testes para determinar acidez, doçura e outras características dos grãos. E há a boa e onipresente cadeia Juan Valdez, equivalente local do Starbucks.
Olha o capricho, no Pergamino Café (Divulgação/Divulgação)
O CENTRO E O TANGO EM MEDELLÍN, COLÔMBIA
A região central de Medellín é parecido com os centros velhos de São Paulo e do Rio. Edifícios comerciais, antigos palacetes transformados em prédios governamentais, muita gente nas ruas. Os bons museus de Medellín estão na área e dão conta da diversidade cultural da cidade.
O Museu de Antioquia tem coleção permanente em 17 salas dedicadas à arte do país desde os tempos pré-colombianos, com muitas peças de Fernando Botero.
Só o edifício, antiga Casa da Moeda, já vale a visita. Mesmo que você não tenha interesse nas formas generosas das esculturas do artista, tem de parar na Plaza Botero pra ver as 23 enormes obras de bronze que ele doou à cidade.
Só o edifício, antiga Casa da Moeda, já vale a visita. Mesmo que você não tenha interesse nas formas generosas das esculturas do artista, tem de parar na Plaza Botero pra ver as 23 enormes obras de bronze que ele doou à cidade.
A arquitetura labiríntica do Centro Comercial Palacio Nacional – shopping popular no centro (Jane Sweeney/Getty Images)
Do outro lado da rua está o Parque Berrío, pequeno e agitado, com ambulantes e artistas de rua. O Centro também é o lugar para vivenciar outra paixão local: o tango. Carlos Gardel morreu enquanto estava na cidade, em 1935, e Medellín abraçou o tango com fervor. Experimentar o gênero em lugares como o Malaga, salão que evoca a Medellín de antigamente, é um programão.
A inconfundível escultura rotunda, claro, na Plaza Botero (Kike Calvo/Getty Images)
O VERDE EM MEDELLÍN, COLÔMBIA
O enorme Parque Arví, dentro da floresta nativa na região de Santa Elena, é escapada inevitável. Tem trilhas, borboletário, trechos de arvorismo e um mercado de produtos locais. A melhor forma de visitá-lo é usando o Metrocable. Parece um teleférico, mas é um sistema eficiente de transporte que alcança bairros distantes.
A gôndola de vidro sobe a montanha, passando por cima de casas da Comuna 1 de Medellín. Em seus 4 quilômetros de extensão, você vê aos poucos a aglomeração urbana dando lugar a uma imensidão verde. Pra chegar lá, pegue a linha L a partir da estação Santiago Domingo (4 600 pesos colombianos cada trecho – uns 5 reais).
O Parque Biblioteca España (Pilar Mejia/Grupo Keystone/Divulgação)
A cidade tem outros ótimos parques. O Jardín Botánico (metrô Universidad) é um respiro verde em que acontecem shows e festivais. O vizinho Parque Explora tem um dos maiores aquários da América Latina e atrações de ciência e tecnologia para crianças. E o Pueblito Paisa, uma caminhada de 20 minutos a partir do metrô Industriales, é uma réplica de um povoado no topo do Cerro Nutibara, no bairro Belén, com vista de 360 graus da cidade.
O imenso aquário do Parque Explora (Divulgação/Divulgação)
COMER, COMER
A cozinha colombiana tem uma vigorosa influência da colonização espanhola e das populações indígenas. Os restaurantes servem uma mistura criativa e saborosa entre culinária da avó e gastronomia de autor, quase sempre com ingredientes como feijões, banana-da-terra, milho e queijo.
O Queareparenamorarte (em Retiro, perto da cidade) é barato e bom para uma longa refeição informal, um lugar simpático onde já se sentaram Anthony Bourdain (apareceu no No Reservations!) e Ferran Adriá.
Nos restaurantes tradicionais como o Hatoviejo provam-se comidas típicas, fartas e saborosas, como chorizos, chicharrones (um tipo de torresmo), morcillas, arepas (uma tortilla fofa de massa de milho), patacones (disco de banana verde frita), empanadas, quesillo (queijo branco, macio e salgado) e o hogao, um molho delicioso de tomate e condimentos. Espere gastar cerca de 30 000 pesos por prato, ou 32 reais.
O prato típico de Antioquia é a bandeja paisa, prima distante e substanciosa do PF brasileiro, normalmente feito de arroz, feijão, carne moída, abacate, ovo frito, banana frita e chicharro. Dizem, os melhores estão nos pueblos ao redor da cidade, como o agradável Portón del Parque, em Santa Fe de Antioquia, e o La Fogata, favorito dos turistas em Guatapé.
De sobremesa, prove a mazamorra (creme de milho), o arroz-doce ou as compotas de frutas nativas como o tomate de árbol (frutinha com cor e fomato de tomate e gosto de laranja kinkan). Procure a deliciosa manga verde gelada, servida com sal e limão como um sorvete, em copinhos de plástico, e vendida por ambulantes. Pode soar um pouco estranho, mas dê uma chance.
Um bom passeio, menos turístico, porém ótimo para conhecer a variedade das frutas colombianas, é o Mercado Minorista. Se quiser circular e tirar fotos, faça isso pela manhã, quando é um pouco mais vazio.
Se quiser um tour profissional, com direito a garfos, facas e explicações sobre o que está provando, procure o Exotic Fruits Tour, da Real City Tours – top 5 de rolês em Medellín no TripAdvisor.
A té Anthony Bourdain aprovou os pratos do Queareparenamorarte (Divulgação/Divulgação)
E OUTROS PASSEIOS
Comuna 13, Medellín, Colômbia O Graffitour da Comuna 13 1 Comuna 13. Medellín, Colômbia Parece Blade Runner: na Comuna 13, escadas rolantes levam moradores favela acima 1
Um efeito da série Narcos foi aumentar o interesse do público pela Hacienda Nápoles, antiga mansão de Pablo Escobar hoje transformada em um parque temático peculiar: você pode ver carros bombardeados e outras relíquias do narcotráfico.
O Graffitour da Comuna 13 (Divulgação/Divulgação)
Numa tentativa de deixar esse passado de lado, o lugar virou um grande parque de diversões com zoológico, hotel, borboletário, piscinas (uma delas com um tobogã coberto por um enorme polvo que espirra água, construído por Escobar para a filha).
Para conhecer outro lado da relação de Medellín com o narcotráfico, procure o Graffitour da Comuna 13, a maior das favelas de Medellín. O lugar foi um dos pontos essenciais na renovação da cidade.
Na mobilidade, o sistema de escadas rolantes que leva as pessoas até o topo do morro virou um “case” de boas ideias no transporte público. Na revitalização, a maior parte das ações de música e arte é feita pela própria comunidade. É uma oportunidade enriquecedora de ver como Medellín virou o jogo.
Parece Blade Runner: na Comuna 13, escadas rolantes levam moradores favela acima (Oscar Garces/Grupo Keystone/Divulgação)
EVENTOS FAMOSOS
O Festival Internacional do Tango– quando a cidade escancara seu amor pelo ritmo argentino –, na última semana de junho. Música também é o mote do Medejazz, o Festival Internacional de Jazz e Músicas do Mundo, com programação a partir de setembro.
A Feria de las Flores, o festão da cidade (Oscar Garces/Grupo Keystone/Divulgação)
As flores são as estrelas do maior e mais emblemático evento da cidade, a Feria de las Flores, que dura dez dias e tem seu auge no Desfile de Silleteros, quando campesinos descem dos pueblos e entram na cidade (de 28 de julho a 6 de agosto).
Medellín se ilumina com o Día de las Velitas, celebração tradicional, na noite de 7 de dezembro, que marca o começo das festas de fim de ano com velas alegrando ruas, praças, centros comerciais e janelas das casas.
No Festival Internacional do Tango, colombianos declaram seu amor ao ritmo argentino (Divulgação/Divulgação)
DICAS DE INSIDER – CHECKLIST DE MEDELLÍN
Passar uma noite no hostel Casa en el Aire, no Cerro San Vicente, Abejorral – a três horas de ônibus de Medellín. É uma casa construída no topo de um penhasco enorme que oferece programas de aventura, como tirolesa, escalada, trilhas, ou tranquilos piqueniques na natureza.
Visitar Jardín, pra mim, a cidade mais bonita de Antioquia.
Passar um dia na colonial Santa Fe de Antioquia.
Curtir a noite de Medellín ao redor do Parque Lleras.
publicado na edição 257 da revista Viagem e Turismo (março/2017)
VALEU PELA VISITA - SEMPRE VOLTE
Fonte dos textos e fotos: viagemeturismo.abril.com.br / Thymonthy Becker / JBTB CORTEZ
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